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Maria Isabel Barreno: uma das ‘Três Marias’ que mudou Portugal
Um país sem memória é um país sem futuro. A Associação ACEGIS recorda Maria Isabel Barreno, uma das ‘três Marias’, que desafiou escrever num tempo em que a liberdade faltava. Desafiou a ditadura com um manifesto contra todas as formas de opressão, tornando-se um símbolo da luta pela liberdade, igualdade e direitos da mulher.
A obra torna-se um símbolo e um marco incontornável na história do feminismo em Portugal. Há um antes e um depois destas três extraordinárias Marias.
Obrigada Maria Isabel Barreno, continuarem a lutar pela construção de uma sociedade mais justa, livre e igualitária.
Susana Pereira, ACEGIS
Maria Isabel Barreno, uma das ‘três Marias’, que desafiou escrever num tempo em que a liberdade faltava. Desafiou a ditadura com um manifesto contra todas as formas de opressão, tornando-se um símbolo da luta pela liberdade, igualdade e direitos da mulher.
Novas Cartas Portuguesas e o caso das ‘três Marias”
Foi em Lisboa, em Maio de 1971, que Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa desafiaram a ditadura e decidiram escrever um livro a seis mãos, intitulado Novas Cartas Portuguesas.
Abordando temas proibidos e censurados durante o Estado Novo, como a guerra colonial, o adultério, a violação, o aborto e a subordinação da mulher.
Em Abril de 1972, o livro é publicado pela Estúdios Cor, sob a direção literária de Natália Correia. Três dias depois, o livro é proibido pelo regime, que o considerou pornográfico e contrário à moral e aos bons costumes.
Novas Cartas Portuguesas rompe com a legislação, moral e costumes vigentes na sociedade portuguesa e ousa despertar a consciência social denunciando a guerra colonial, a discriminação a falta de liberdade, a marginalização das minorias e a subordinação da mulher na sociedade.
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Escritas simbolicamente durante nove meses – de 1 de março de 1971 a 25 de novembro de 1971 – o livro ousa desafiar e questionar as representações sociais e o papel da mulher na sociedade portuguesa.
“Que desgraça o se nascer mulher! Frágeis, inaptas por obrigação, por casta, obedientes por lei a seus donos, senhores sôfregos até de nossos males”.
Partindo da história de Soror Mariana as autoras mostram a clausura da mulher portuguesa no seu quotidiano, seja num convento ou na sociedade patriarcal do Estado Novo.
“Que mulher não é freira, oferecida, abnegada, sem vida sua, afastada do mundo? Qual a mudança, na vida das mulheres, ao longo dos séculos?”
Abordando temas proibidos e censurados, como a guerra colonial, o adultério, a violação, o aborto, bem como a questão da mulher enquanto sujeito do desejo e de subordinação.
“as mulheres bordam, cozinham, sujeitam-se aos direitos de seus maridos, engravidam, têm abortos ou fazem-nos, têm filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratam dos filhos, morrem de parto, às vezes, em suas casas, onde apenas mudou o feitio dos móveis, das cadeiras e dos cortinados.”
A censura e o processo judicial contra as ‘três Marias’
1972, três dias após o lançamento do livro, boa parte da primeira edição é recolhida e destruída pela censura de Marcelo Caetano, sob o pretexto e a acusação de que o seu conteúdo era “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”.
O livro é proibido pelo regime, que o considerou pornográfico e contrário à moral e aos bons costumes. As três autoras são acusadas e levadas a julgamento, num caso que ficará para a história como o das ‘três Marias’, uma das primeiras grandes lutas pela causa feminista em Portugal.
O julgamento indignou e mobilizou movimentos feministas e a opinião pública internacional. Em várias cidades americanas e do resto do mundo houve manifestações de solidariedade no dia 3 de Julho de 1973, data originalmente marcada para o início do julgamento.
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A 25 de outubro de 1973 começa o julgamento.
Durante os dois anos em que durou o julgamento em Portugal, grupos de feministas organizaram manifestações de protesto juntos às embaixadas e consulados portugueses em Londres, Paris e Nova Iorque.
De entre os nomes que assumiram a defesa pública das ‘três Marias’ encontra-se Simone de Beauvoir, Margarite Duras, Doris Lessing, Íris Murdoch e Stephen Spence.
A 7 de maio de 1974, dias após a Revolução do 25 de Abril, é lida a sentença pelo juiz Lopes Cardoso:
“O livro ‘Novas Cartas Portuguesas’ não é pornográfico nem imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras de arte que as autoras já produziram”.
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa são absolvidas.
Novas Cartas Portuguesas, um manifesto que desafiou uma ditadura contra todas as formas de opressão e subordinação das mulheres portuguesas, ao renunciar ao papel imposto pela ditadura, pelo conservadorismo patriarcal do Estado Novo.
A obra torna-se um símbolo e um marco incontornável na história do feminismo em Portugal. Há um antes e um depois destas três extraordinárias Marias.
Nota Biográfica | Maria Isabel Barreno (1939-2016)
“Recriando a nós próprias, recriamos o mundo”. Maria Isabel Barreno
Maria Isabel Barreno de Faria Martins nasceu em Lisboa, a 10 junho de 1939. Licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalhou no Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) e, mais tarde, no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.
Publicou mais de duas dezenas de livros, entre romances, contos e investigação.
Recebeu diversas distinções, entre as quais o Prémio Fernando Namora, pelo romance “Crónica do Tempo” (1991), e o Prémio Camilo Castelo Branco e o Prémio Pen Club Português de Ficção, pelo livro de contos “Os Sensos Incomuns” (1993). Em 2004 foi condecorada pelo Presidente da República como Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Morreu aos 77 anos, a 3 de setembro de 2016.
Link de interesse: Novas Cartas Portuguesas
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