Crianças Rohingya: infância roubada e o futuro comprometido
O futuro de mais de 500 mil crianças que vivem em campos de refugiados no Bangladesh está comprometido.
Desde o início da crise em agosto de 2017, mais de 500 mil crianças refugiadas Rohingya fugiram da violência no Myanmar com destino ao Bangladesh. Ao todo, mais de 706 mil pessoas vivem agora em campos de refugiados em Cox Bazar.
O mais recente relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que o futuro de mais 500 mil crianças rohingyas está em risco, podendo tornar-se uma "geração perdida".
"Se não investirmos na educação agora, corremos o risco sério de ter uma 'geração perdida' de crianças Rohingyas que não tem as competências necessárias para lidar com a sua situação atual e que será incapaz de contribuir para a sua sociedade quando regressarem a Myanmar". Afirmou Edouard Beigbeder, representante da Unicef no Bangladesh.
O relatório da Unicef alerta que “as crianças que vivem nos campos de refugiados sobrelotados e rudimentares do distrito de Cox’s Bazar enfrentam um futuro sombrio, com poucas oportunidades de aprendizagem e sem saber quando poderão regressar às suas casas”.
Em julho de 2018, cerca de 1.200 centros encontravam-se operacionais e quase 140.000 crianças estavam inscritas. No entanto, não existia um currículo escolar único, as salas de aula estavam frequentemente sobrelotadas e não tinham água e outros serviços básicos.
Um ano após o êxodo em massa da minoria Rohingya da Birmânia, o futuro de mais de 500 mil crianças que vivem em campos de refugiados no Bangladesh está comprometido.
Segundo o relatório, está atualmente em desenvolvimento um novo quadro de aprendizagem, concebido para que as crianças beneficiem de uma educação com mais qualidade e que inclua competências de literacia, linguística e numeracia, assim como competências básicas para a vida.
O documento indicou que a comunidade internacional deveria investir no apoio a uma educação de qualidade e em competências para a vida para todas as crianças rohingyas e em especial para as raparigas e adolescentes que, segundo o documento, estão em risco de exclusão.
A publicação apela ainda ao Governo da Birmânia para que garanta que as crianças de todas as comunidades no estado birmanês de Rakihne – onde mais de meio milhão de crianças rohingyas permanecem – tenham acesso a educação de qualidade pré-primária, primária e níveis de educação subsequentes.
O relatório afirma que uma solução duradoura para a crise dos rohingyas exige uma resposta à situação no norte de Rakhine e apela à implementação das recomendações da Comissão Consultiva para o Estado de Rakhine, incluindo o reconhecimento dos direitos básicos da população muçulmana que ali vive – nomeadamente o direito à livre circulação, a acesso a serviços básicos, como a saúde e educação, e meios de subsistência profícuos.
O documento apela também ao Governo da Birmânia para que garanta proteção às crianças rohingyas e a todos os restantes grupos étnicos, e para que crie as condições necessárias no terreno que permitam o retorno voluntário, seguro e digno dos refugiados Rohingya às suas comunidades.
A UNICEF está no terreno no sul do Bangladesh desde o início da crise, integrando uma coligação de agências nacionais e internacionais.
Em 2018, esta agência das Nações Unidas lançou um apelo de 24,3 milhões de dólares (milhões de euros) destinados ao seu trabalho em matéria de educação para os refugiados rohingyas. Até à data, apenas pouco mais de 50% do montante está assegurado.
O número de deslocados/as rohingyas da Birmânia só neste último ano ultrapassa os 700.000, além dos 200.000 que já viviam anteriormente em campos de refugiados no Bangladesh.