Publicação ACEGIS | 17 de outubro 2020
O número de pessoas em situação de pobreza extrema no mundo vai aumentar em 150 milhões em 2021 devido à pandemia. O alerta é feito do Banco Mundial.
O mais recente relatório do Banco Mundial — Poverty and Shared Prosperity 2020 — revela que, só este ano, a pobreza extrema deverá atingir entre 88 milhões e 115 milhões de pessoas, podendo chegar a um total de 150 milhões de pessoas em 2021.
De acordo com o presidente do Banco Mundial, David Malpass, é o primeiro aumento em mais de 20 anos, já que à pandemia de covid-19 se associam as alterações climáticas e situações de conflito em vários pontos do globo.
Pandemia pode levar mais 150 milhões de pessoas para a pobreza extrema até 2021
O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1,90 dólares por dia (1,61 euros) e deverá afetar cerca de 9,1% e 9,4% da população mundial em 2020, segundo o relatório hoje divulgado.
Os números “representariam um regresso à taxa de 9,2% em 2017”, e segundo o Banco Mundial, caso não tivesse existido a pandemia, a taxa deveria baixar para 7,9%.
“De forma a reverter este retrocesso sério ao desenvolvimento do progresso e à redução da pobreza, os países vão ter que se preparar para uma economai diferente depois da covid-19, ao permitir que o capital, o trabalho, as competências e a inovação se movam para novos negócios e setores”, considerou o presidente do Banco Mundial.
Além da linha dos 1,90 dólares, o Banco Mundial também mede linhas de pobreza nos 3,20 dólares e 5,50 dólares (2,72 e 4,67 euros, respetivamente), estimando que “quase um quarto da população mundial viva abaixo da linha dos 3,20 dólares e mais de 40% da população mundial – quase 3,3 mil milhões de pessoas – vivam abaixo da linha dos 5,50 dólares”.
Segundo o relatório, “muitos dos novos pobres estarão em países que já têm altas taxas de pobreza”, e “um número de países com rendimentos médios verão números significativos de pessoas passarem para baixo da linha da extrema pobreza”, estimando que 82% do total serão nesses países.
O Banco Mundial afirma também que a convergência da pandemia COVID-19 com as pressões do conflito e da mudança climática colocará a meta de acabar com a pobreza até 2030 inalcançável, caso não haja uma implementação de políticas “rápida, significativa e substancial”. Em 2030, a taxa de pobreza global poderá chegar aos 7%.
De acordo com o Banco Mundial, “a desaceleração da actividade económica intensificada pela pandemia deverá atingir as pessoas mais pobres de forma especialmente forte e isto poderia levar a indicadores de prosperidade partilhada ainda mais baixos nos próximos anos”.
O relatório apela ainda à acção colectiva para contrariar os indicadores mais negativos, de forma a “assegurar que os anos de progresso na redução da pobreza não sejam apagados”.
De acordo com todos os dados e projeçõesponíveis até agora, parece que a pandemia fa COVID-19 já foi a pior reversão no caminho em direção à meta de redução da pobreza global pelo menos nas últimas três décadas.
Acabar com a pobreza em todas as suas formas em todos os lugares
O objetivo 1 de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, “Erradicar a Pobreza”, exige o fim da pobreza em todas as suas manifestações, incluindo pobreza extrema, até 2030.
De forma a garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os mais pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais no acesso aos recursos económicos, bem como no acesso aos serviços básicos de desenvolvimento humano.
O Conselho Europeu adotou, em junho de 2010, um objetivo global para a inclusão social: até 2020, deveria reduzir-se em, pelo menos, 20 milhões o número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, na União Europeia.
Em 2019, 21,1% da população da União Europeia (UE), estava em risco de pobreza ou exclusão social, o que equivale a 92,4 milhões de pessoas. Portugal está ligeiramente acima dessa média (21,6%), de acordo com os dados divulgados pelo Eurostat.
Europa vai falhar metas de redução da pobreza
Uma em cada cinco pessoas, ou 21,% da população, estava em risco de pobreza ou exclusão social em 2019: isto representa um total de 92,4 milhões de pessoas.Maior impacto é sentido por mulheres (22%) e crianças (22,5%).
Em 2019, a taxa de privação material severa na UE-27 foi 2.8 pontos percentuais inferior à de 2015, passando de 8,4% para 5,6%. Esta taxa variou substancialmente entre os Estados-Membros da UE, de 19,9% na Bulgária, 16,2% na Grécia e 14,5% na Roménia a menos de 2% no Luxemburgo (1,3%) e na Suécia (1,8%).
As mulheres estão desproporcionalmente representadas entre os pobres (22%).
O risco de pobreza para além de afeta mais as mulheres, também é mais elevado entre os jovens com menos de 18 anos (22,5%) do que entre as pessoas idosas (18,6%).
Ter emprego não é suficiente para reduzir o risco de pobreza e exclusão social. Em 2019, 11,1% das pessoas que no ano passado estavam empregadas estavam em risco de pobreza ou exclusão social.
A taxa de risco de pobreza após transferências sociais
Em 2019, 16,5% da população da UE estava em risco de pobreza após transferências sociais (pobreza de rendimento), uma redução de apenas 0.3 pontos percentuais face a 2018 (16,8%), estando ao nível da taxa de pobreza registada em 2010.
Assim, e se analisarmos os dados e da evolução da taxa de risco de pobreza após transferências sociais na UE-27 desde 2010 (início da série cronológica) até 2019, verificamos um longo período de agravamento, fixando-se atualmente no nível observado em 2010.
A taxa de risco de pobreza após transferências sociais na UE cresceu entre 2010 e 2011, passando de 16,5 % para 16,9 %, respectivamente. Esta taxa manteve-se relativamente estável nos dois anos seguintes, aumentando de forma mais acentuada em 2014, até atingir os 17,3 %.
Em 2015 e 2016, foram observados aumentos menos significativos (até 0,1 pontos percentuais em cada ano). A primeira descida palpável foi registada em 2017, com a taxa a cair para 16,9 %, à qual se seguiu, em 2018, uma redução mais ligeira de 0,1 pontos percentuais, fixando-se atualmente em 16,5%, estagnando nos níveis observados no período entre 2010 e 2011.
Isto significa que cerca de uma em cada seis pessoas na União Europeia vive em risco de pobreza monetária.
Em Portugal, 21,6% da população, mais 2,2 milhões de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social. Em termos absolutos, desde 2008, 534 mil pessoas deixaram de estar em risco de pobreza ou de exclusão social em Portugal.
Em Portugal, 21,6% da população, mais 2,2 milhões de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social, um valor ligeiramente acima da média da União Europeia (21,1%). Sendo que as transferências sociais reduziram a taxa de risco de pobreza para 17,2% (transferências sociais, excluindo pensões), uma redução em 1.3 pontos percentuais face a 2008 e de 2.3 pontos percentuais em relação ao período de maior agravamento, observado no período de 2014 e 2015, que atingiu os 19,5%.
Acresce que a taxa de privação material severa foi de 5,6%, o que significa que suas condições de vida foram seriamente afetadas pela falta de recursos, como não conseguir pagar suas contas, manter a casa adequadamente aquecida ou tirar uma semana de férias longe de casa. Ainda assim, regista-se uma redução de 4,1 pontos percentuais face a 2008, e menos 5,5 pontos percentuais que 2013 (10,9%).
Ter emprego não é suficiente para reduzir o risco de pobreza e exclusão social. Em 2019, 13,4,1% das pessoas que estavam empregadas estavam em risco de pobreza ou exclusão social.
Download | Relatório do Banco Mundial — Poverty and Shared Prosperity 2020
A série Pobreza e prosperidade compartilhada fornece as estimativas mais recentes e precisas sobre as tendências da pobreza global e da prosperidade compartilhada. Por mais de duas décadas, a pobreza extrema diminuiu continuamente. Agora, pela primeira vez em uma geração, a busca pelo fim da pobreza sofreu seu pior revés.
Dados do Eurostat
Estes dados provêm dos resultados de 2019 do inquérito EU-Statistics on Income and Living Conditions (EU-SILC) .
Conjuntos de dados utilizados no artigo: ilc_peps01 (taxa de risco de pobreza ou exclusão social), ilc_li02 (taxa de risco de pobreza após transferências sociais) e ilc_mddd11 (privação material severa).
Para mais informações, consulte o artigo Estatísticas Explicadas Condições de vida na Europa – pobreza e exclusão social . E o infográfico também disponível no site do Eurostat.
Dos 1,7 milhões de crianças em Portugal, 19% estão em risco de pobreza – cerca de 321 mil menores de 18 anos, sendo que a taxa de pobreza é mais elevada em famílias monoparentais ou com 3 ou mais filhos.
Banco Mundial e Unicef alertam para risco de pobreza extrema em crianças Estima-se que uma em cada seis crianças – ou 356 milhões em todo o mundo – vivia em extrema pobreza antes do início da pandemia COVID-19.
Globalmente, o número de pessoas que vive em pobreza extrema desceu para mais de metade, diminuindo de 1,9 mil milhões, em 1990, para 736 milhões em 2013.
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