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O cônsul insubordinado
Figura única da História portuguesa, Aristides de Sousa Mendes foi um Diplomata português que durante a II Guerra Mundial salvou mais de 30.000 vidas da perseguição Nazi.
Aristides de Sousa Mendes foi um Diplomata português que durante a II Guerra Mundial salvou mais de 30.000 vidas da perseguição Nazi, em 1940, no que é considerado como a maior acção de salvamento empreendida por uma pessoa individual.
Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu a 19 de julho de 1885, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), localidade situada a cerca de 30km a sul de Viseu. Pertencia a uma família aristocrática e católica da Beira-Alta.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra acabou por seguir a carreira diplomática, desempenhou diversas delegações consulares pelo mundo, como Zanzibar, Guiana Britânica, Brasil, Estados Unidos da América, Luxemburgo ou Espanha. Em 1939,
Em 1938, mesmo nas vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, Salazar nomeia-o Cônsul em Bordéus, em França.
A ascensão ao poder de Adolf Hitler, em 1933, na Alemanha, marca o início da perseguição aos judeu, porém é com a chegada dos alemães a Paris, intensifica-se a fuga para Sul.
Na sequência da invasão nazi operada em meados de maio de 1940, o governo liderado por Paul Reynaud decide sair de Paris e instalar-se provisoriamente nos arredores de Tours. Perante o avanço imparável dos exércitos de Hitler e sem tempo para mobilizar o apoio militar britânico, o Presidente do Conselho francês determina a transferência do governo para Bordéus. Nas estradas de França, o caos é completo. Milhões de civis fogem de suas casas. Durante a noite de 14 de Junho, as tropas da Wehrmacht entram na capital, contornam o Arco do Triunfo e desfilam vitoriosos pelos Campos Elíseos.
Ao mesmo tempo que os alemães se estabelecem em Paris, o governo francês instala-se em Bordéu, o que leva a cidade a ficar abarrotada de milhares de pessoas que procuram fugir do terror da guerra. Em Bordéus, os refugiados chegam aos milhares numa procura desesperada de vistos na esperança de conseguirem um visto para a liberdade.
Bordéus transformara-se na capital da desordem. Enquanto isso, Paris encontra-se deserta e silenciosa. Ali impera a ordem. A primeira semana de ocupação deixa no ar uma sensação de obediência. Nas paredes da cidade são colados cartazes incitando as populações abandonadas a confiar nos soldados alemães. O contraste com Bordéus não poderia ser maior. À porta dos consulados estrangeiros vêem-se as primeiras filas de pessoas que procuram obter vistos, para um qualquer país, a fim de escaparem às tropas que se aproximam.
Nesta altura Bordéus encontrava-se já sobrelotada. A população local passara rapidamente das 300.000 para cerca de 700.000 pessoas. Instalara-se o caos e o medo. O número de refugiados na Place de Quiconces, perto do consulado português, não parava de crescer todos os dias. Centenas de exilados procuravam barricar-se diariamente no interior do prédio consular. Também as centenas de telegramas enviados pelo cônsul para o Ministério português a pedir autorização para conceder vistos.
Aristides de Sousa Mendes viu-se confrontado com um dilema: por um lado, ajudar a salvar vidas, por outro lado, contrariar as ordens recebidas do seu próprio Governo, que através da circular 14, o impedia de passar vistos a quem procurava asilo e refúgio seguro.
A Circular n.º 14, de 11 de novembro de 1939, do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, estabelecia regras restritivas de concessão de vistos e de passaporte à maior parte dos refugiados, nomeadamente judeus, exilados políticos e cidadãos provenientes de países do Leste Europeu, sob pena de vir a ser castigado.
Tocado pelo drama humano que se desenrola sob o seu olhar, Aristides de Sousa Mendes decide ignorar as ordens recebidas de Portugal e conceder vistos a todos os que deles precisassem. Sabia perfeitamente que iria colocar a sua carreira de 30 anos no serviço diplomático em perigo e que iria agravar as dificuldades económicas da sua extensa família.
Até 22 de Junho, foram emitidos, no consulado português, milhares de vistos, tarefa para a qual recebeu a ajuda do genro Kruger que se encarregou de espalhar a notícia pela cidade de que o cônsul português passaria vistos a todos os que o solicitassem. Fosse pelo fervoroso sentimento católico que o assaltava, pelo seu espírito anti-nazi, ou por simples razões humanitárias, Aristides de Sousa Mendes queria ajudar todos os que pudesse até porque a situação política e humanitária piorava em França de dia para dia. Apesar da tentativa feita pelo governo português para o parar, Sousa Mendes continuará, mesmo na rua e junto à fronteira de Hendaye, a conceder vistos. Só desistiria do seu objectivo com a chegada dos alemães.
"Que mundo é este em que é preciso ser louco para fazer o que é certo?”
O acto de desobediência consciente de Aristides de Sousa Mendes possibilitou salvar um número de pessoas que se estima em mais de 30 mil.
Aristides de Sousa Mendes optou por obedecer à sua consciência e desse modo, à revelia do governo português, decidiu passar vistos para a liberdade a todos que o solicitassem, independentemente da sua religião, raça ou credo político. O seu gesto, para além de afetar os seus filhos, que se viram obrigados a emigrar, valeu-lhe a instauração de um processo disciplinar que na prática teve como resultado final a expulsão da carreira diplomática
Apesar das dificuldades sentidas, os refugiados podiam aspirar a uma vida nova longe dos horrores nazis que assombravam grande parte da Europa ocupada. Todavia, o homem que permitiu a fuga e a esperança a milhares de pessoas seria alvo de um processo disciplinar que lhe custaria a carreira e a desgraça da família. Como seria de esperar, em Lisboa, a 4 de Julho de 1940, foi aberto um processo para averiguar o que se havia passado no consulado de Bordéus. A investigação ficou a cargo de Francisco de Paula Brito Júnior, que tinha por funções inquirir, preparar uma lista de acusações, ouvir os argumentos de defesa e propor uma sentença.
A decisão de Oliveira Salazar foi ditada, por despacho, no dia 30 de Outubro de 1940. Aristides de Sousa Mendes seria condenado a um ano de serviço inactivo com metade do vencimento a que se deveria seguir a sua aposentadoria. Contudo, no ano seguinte, é-lhe mantida a inactividade, por decreto de 20 de Março de 1941, por mais um ano. Posteriormente, a partir de 15 de Julho de 1943, é-lhe atribuída uma pensão provisória, mensal, baseada em trinta anos de serviço, que se manterá até à data da sua morte.
Aristides de Sousa Mendes passou os últimos anos da sua vida pobre e sem família, acompanhado apenas por uma sobrinha. Foi obrigado a vender tudo o que tinha para pagar dívidas e sobreviver com dificuldade. Aristides veio a morrer aos 68 anos, ignorado, só e em situação de miséria, no dia 3 de abril de 1954, no Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco, em Lisboa.
“Não poderia agir de outra forma e assim aceito tudo o que me aconteceu com amor.”
O RECONHECIMENTO
O primeiro reconhecimento veio em 1966 de Israel que declarou Aristides de Sousa Mendes “Justo entre as Nações”. Em Outubro de 1967, numa cerimónia realizada no Consulado Israelita de Nova Iorque, responsáveis do Yad Vashem entregaram à família de Aristides de Sousa Mendes uma medalha alusiva aos feitos do pai.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros só depois da Revolução de Abril de 1974 é que mostrou algum interesse por Sousa Mendes. Chegou a ser realizada uma investigação sobre este assunto, mas o caso voltou a cair no esquecimento. Entretanto, os filhos de Aristides de Sousa Mendes não desistiram de reabilitar a memória do pai e, por iniciativa de João Paulo Abranches, uma série de homenagens em sinagogas, organizações judaicas e na imprensa americana, a partir de 1986, chamaram a atenção da comunidade internacional para os feitos do pai.
Aristides de Sousa Mendes foi condecorado, a título póstumo, em 1986, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1995, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, ambas pelo Presidente Mário Soares e mais recentemente em 2017, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Aristides de Sousa Mendes recebeu esta terça-feira, dia 19 de outubro, Honras de Panteão.
Através da Resolução da Assembleia da República n.º 47/2020, de 24 de julho, o Parlamento decidiu “homenagear e perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes, enquanto homem que desafiou a ideologia fascista, evocando o seu exemplo na defesa dos valores da liberdade e dignidade da pessoa humana e concedendo-lhe Honras de Panteão”.
O Presidente da República presidiu à cerimónia solene de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, evocando e reconhecendo o legado do português, um “Justo entre as Nações”, o homem que mudou a História de Portugal e projetou Portugal no Mundo.
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues descerraram a placa evocativa de homenagem a Aristides de Sousa Mendes.
O final da cerimónia ficou marcado pela assinatura do Auto de Honras de Panteão Nacional, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues e pelo Primeiro-Ministro, António Costa.
PARA MAIS INFORMAÇÕES, CONHEÇA E VISITE
A Fundação Aristides de Sousa Mendes foi constituída no ano 2000 com os objectivos de divulgar o Acto de Consciência de Aristides de Sousa Mendes e de desenvolver e executar o projecto de recuperação da casa de família de Sousa Mendes, a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato.
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