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2154: Talvez, o Ano da Igualdade de Género

Fórum Económico Mundial calcula que o tempo necessário para eliminar as desigualdades globais entre homens e mulheres seja de 132 anos.

Isto significa que conseguir paridade entre homens e mulheres na saúde, educação, no trabalho e na política ainda demorará mais de um século a ser alcançada. Os dados constam do Relatório Mundial sobre a Desigualdade de Género de 2022, publicado no dia 13 de julho de 2022. 

Mais de um século de atraso: a desigualdade global entre homens e mulheres só será eliminada em 132 anos

Não obstante o relativo avanço, em termos legais e políticos, na defesa dos princípios da igualdade, o impacto da pandemia confirma as persistentes desigualdades de género em diversos contextos. A nível global, o relatório sublinha que o progresso no sentido da paridade na economia, educação, saúde e participação política é tão lento que, ao ritmo atual, serão necessários 132 anos para colmatar o fosso das desigualdades entre homens e mulheres. 

Índice Global das Desigualdade de Género
68.1%

Ao ritmo atual, serão necessários 132 anos para colmatar as desigualdades entre homens e mulheres.

A 16ª edição do relatório mostra que, entre os 146 países avaliados, apenas um em cada cinco conseguiu eliminar a desigualdade de género em pelo menos 1% no último ano. Doze países reverteram suas disparidades de género em mais de 1 ponto percentual, enquanto 46 países tiveram um declínio marginal – menos de 1 ponto percentual.

Embora tenha havido uma ligeira melhoria nos últimos 12 meses, com uma redução da diferença global de género em 68,1%, isso representa uma melhoria de apenas quatro anos, no que se refere aos progressos em matéria de igualdade de género. No entanto, não compensa a queda de 36 anos que ocorreu nos primeiros dois anos da pandemia – entre 2020 e 2021- em que a paridade passou de 99,5 para 135,6 anos. Na prática, isto significa adiar por mais uma geração, o tempo necessário para eliminar as desigualdades globais de género.

Diante de uma recuperação fraca, o governo e as empresas devem fazer dois conjuntos de esforços: políticas direcionadas para apoiar o regresso das mulheres ao mercado de trabalho e o desenvolvimento de competências das mulheres nas indústrias do futuro. Caso contrário, corremos o risco de refazer permanentemente os ganhos das últimas décadas e perde retornos económicos futuros da diversidade.
Saadia Zahid
diretora-geral do Fórum Económico Mundial

Resultados globais e tempo para alcançar a paridade

  • Nos 146 países cobertos pelo índice de 2022, a disparidade de género na Saúde e Sobrevivência foi reduzida em 95,8%, Nível Educacional em 94,4%, Participação Económica e Oportunidade em 60,3% e Empoderamento Político em 22%.

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O Relatório Mundial sobre as Desigualdades de Género, agora no seu 16º ano, analisa os fatores que provocam a desigualdade entre mulheres e homens em quatro áreas-chave: participação económica e oportunidades; nível de escolaridade; saúde e fecundidade e empoderamento político.

Entre os 146 países avaliados, as desigualdades de género na saúde e sobrevivência é a mais estreita, tendo sido mundialmente eliminada em 95,8%, embora nenhum país registe a paridade. O subíndice de escolaridade caiu de 95,2% para 94,4%. Embora 29 países tenham alcançado a paridade total, ainda levará 22 anos para eliminar a desigualdade de género na educação.

O subíndice Participação Económica e Oportunidade aumentou 1,6%, passando de 58,7% para 60,3% em 2022. Estima-se que sejam necessários mais 151 anos para alcançar a paridade económica e no mercado de trabalho.

Por último, é no domínio da participação política onde a diferença é maior (22%), o que significa que a presença dos homens é quase quatro vezes superior à das mulheres a nível mundial. Atendendo à trajetória atual, a lacuna de género na participação política deve levar 155 anos para ser sanada, mais 11 anos do que o previsto em 2021.

Desigualdade global de género em 2022

A América do Norte é a região com melhor desempenho, com 76,9% da desigualdade de género eliminada. O número de anos que serão necessários para eliminar a desigualdade caiu de 62 para 59 anos. Há uma ligeira melhoria nos Estados Unidos, enquanto a pontuação do Canadá não evolui.

A Europa (76,6%) está logo atrás, registando uma melhoria de apenas 0,2% desde 2021, resultando numa espera de 60 anos até que a desigualdade de género seja eliminada. 

Em terceiro lugar está a América Latina e o Caribe, tendo superado 72,6% da sua disparidade de género. Com base no ritmo atual de progresso, a América Latina e o Caribe poderão eliminar as desigualdades entre homens e mulheres  em 67 anos. 

A Ásia Central, juntamente com a Ásia Oriental e o Pacífico, estão no meio, com 69,1% e 69%, respetivamente, de progresso em direção à paridade. Como resultado estima-se uma espera entre 152 e 168 anos para fechar o hiato de género nestas regiões.

Em sexto lugar, a África Subsaariana situa-se em 67,8%. Mais abaixo no ranking, e com mais de quatro pontos percentuais, está o Médio Oriente e o Norte da África com 63,4%. A pontuação da região permanece semelhante à da última edição, que dá um prazo de 115 anos para eliminar a desigualdade. 

Por último, a Ásia Meridional (62,3%) tem a maior taxa de desigualdade de género do mundo, registando progressos muito lentos na maioria dos países desde a última edição, e com uma pontuação baixas em todos os indicadores de desigualdade entre homens e mulheres. No ritmo atual, serão necessários 197 anos para eliminar as desigualdades de género na região.

 

Globl Gender Gap-Regions-2022-ACEGIS

Destaques globais e regionais 2022

Embora nenhum país tenha alcançado a paridade de género total, as 10 principais economias fecharam pelo menos 80% das desigualdades de género, com a Islândia (90,8%) a liderar pelo 13ª ano consecutivo o ranking global, seguida pela Finlândia, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Ruanda e Nicarágua.

Europa poderá fechar o hiato de género em 2082

A Europa tem o segundo nível mais alto de paridade de género, com 76,6%. Com base no conjunto constante de 102 países cobertos pelo índice desde 2006, a região registou uma melhoria marginal de apenas 0,2 pontos percentuais em relação ao ano passado. O progresso é lento na Europa que, se continuar a este ritmo, demorará 60 anos para fechar o hiato de género. Estima-se que só em 2082 é que será alcançada a paridade de género na região.

 

Islândia, Finlândia e Noruega ocupam as primeiras posições na região, enquanto Roménia, Chipre e Grécia ocupam os últimos lugares do ranking. Por sua vez, a Albânia, Islândia e Luxemburgo são os três países da Europa que mais melhoraram no índice da igualdade de género em 2022.

Portugal caiu 7 lugares no ‘ranking’ da igualdade entre homens e mulheres e ocupa a 29º posição

Entre os 146 países abrangidos pelo índice de 2022, Portugal ocupa a 29.ª posição do “Global Gender Gap Report” de 2022, com uma pontuação de 0,766, uma decida de 0,0009 pontos face ao último ano. 

Portugal apresentou os seus melhores valores na área da educação com 0,990 e na saúde e sobrevivência com 0,973. Porém, desceu 7 lugares no ranking em relação ao último ano, devendo-se fundamentalmente ao nível de empoderamento político, que registou uma pontuação de 0,364 – uma decida de 0,026 pontos em relação a 2021. Esta queda resulta da diminuição do número de mulheres eleitas para o parlamento nas últimas eleições legislativas que, por sua vez, se refletiu numa queda de 13 lugares no ranking, ocupando agora a 33ª posição.

No que respeita à participação e oportunidade económica, Portugal desceu 3 lugares face a 2021, obteve uma pontuação de 0,737 e ocupa agora a 41ª posição no ranking.

Mulheres na liderança e em cargos de decisão

Globalmente, a participação de mulheres em cargos de liderança é de 33% e de 31% no setor privado. Em 2022, apenas alguns setores apresentam níveis próximos da paridade na liderança, como Organizações Não Governamentais (47%), Educação (46%) e Serviços Pessoais e de Bem-Estar (45%). No outro extremo estão os setores da Energia (20%), Manufatura (19%) e das Infraestruturas (16%). 

 

Desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho: uma crise iminente

Ao contrário de outras recessões na história recente, as perdas de emprego devido à pandemia da COVID-19 foram significativamente piores para as mulheres do que para os homens. No pico da pandemia, no segundo trimestre de 2020, as horas de trabalho dos homens caíram 18,8%, enquanto as horas de trabalho das mulheres diminuíram 18,1%. No entanto, desde então, as mulheres sofreram uma perda de horas de trabalho significativamente maior do que os homens. Como resultado, em 2022, a paridade de género é de 62,9%, a pontuação mais baixa registada desde que o Índice foi compilado pela primeira vez.

Embora as atuais taxas de desemprego dos homens e das mulheres sejam superiores aos níveis pré-pandemia, a taxa de desemprego global das mulheres em 2021 (6,4%) foi maior do que a dos homens (6,1%). O impacto desproporcionalmente negativo da pandemia no mercado de trabalho pode ser explicado, em parte, pela composição setorial do choque e pelas contínuas desigualdades nas responsabilidades do cuidado que foram exacerbadas pela pandemia. A maior parte do trabalho de assistência recaiu sobre as mulheres, devido ao encerramento de creches e de escolas. Mesmo antes da pandemia, a proporção do tempo de trabalho não remunerado dos homens no total do trabalho era de 19%, enquanto que o das mulheres era de 55%.

Globalmente, a pandemia reverteu muitos dos progressos alcançados e afetou de forma desproporcional as mulheres e as raparigas, agravando as desigualdades de género pré-existentes, agudizando os efeitos diferenciados das mulheres ao nível do empregodos salários e na progressão das carreiras, que resultará em desigualdades ainda mais profundas entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Além disso, a redução da participação das mulheres no mercado de trabalho tem consequências importantes para outras dimensões do emprego e na distribuição do trabalho não remunerado, que afetam desproporcionalmente as oportunidades das mulheres no domínio económico, com repercussões em todas as outras esferas da sua vida.

Relatório Mundial sobre a Desigualdade de Género de 2022

Relatório do Fórum Económico Mundial, publicado a 13 de julho de 2022

Associação para a Cidadania, Empreendedorismo, Género e Inovação Social

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