- geral.acegis@gmail.com
- (+351) 212 592 663
Os destinos da Europa e a independência da Ucrânia, no dia que marca três anos da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.
Desde 24 de fevereiro de 2022, a guerra regressou ao continente europeu devido à invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia — um marco trágico num conflito que com onze anos desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
A 2 de março de 2022, poucos dias após a Rússia lançar sua invasão à Ucrânia, 141 dos 193 países-membros das Nações Unidas votaram a favor de uma resolução condenando a guerra na Ucrânia e exigia que a Rússia retirasse todas as suas tropas do país. Num claro sinal de isolamento diplomático, apenas quatros países – Coreia do Norte, Eritreia, Síria e Bielorrússia – votaram ao lado de Moscovo.
Um cenário bem diferente da votação desta segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025, no terceiro aniversário do início da invasão, pautado por uma reversão de posições sem precedentes, na qual os Estados Unidos votaram ao lado da Rússia, da Coreia do Norte e da Bielorrússia.
Num claro sinal de mudança de posicionamento relativamente à guerra na Ucrânia, 93 Estados-membros das Nações Unidas votaram a favor da resolução que reafirma “o compromisso das Nações Unidas com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia” e que “apela à redução da tensão, à rápida cessação das hostilidades e a uma resolução pacífica da guerra contra a Ucrânia”.
O resultado da votação evidencia a fragilização do consenso internacional relativamente ao apoio à Ucrânia desde o início da invasão.
Três anos após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, duas realidades inegáveis parecem ditar o seu futuro. Vladimir Putin acredita que o tempo está do seu lado e não está a desviar-se do seu objetivo final de tornar a Ucrânia inviável. Por outro lado, as mudanças políticas em curso em Washington, sob a liderança do presidente Donald Trump, estão a suscitar preocupações de um “fim rápido” para o conflito, sem fazer qualquer menção à integridade territorial da Ucrânia, deixando Kiev sem condições para rejeitar um mau acordo de paz.
Efetivamente, desde que Donald Trump regressou à Casa Branca, os Estados Unidos não só têm alinhado o discurso da guerra na Ucrânia com Vladimir Putin, contestando a legitimidade de Volodymyr Zelensky na presidência da Ucrânia, apelidando-o de “ditador” e “comediante de sucesso modesto”, mas também responsabilizou a Ucrânia pelo início da guerra com a Rússia. Neste cenário, as políticas agressivas da Rússia e a atitude sem precedentes da administração dos EUA estão a combinar-se para alterar os pilares das relações internacionais, e em particular com a Europa.
A realização de um diálogo bilateral entre Washington e Moscovo sem as devidas consultas na NATO, na União Europeia e na própria Ucrânia, põe em causa toda a arquitetura do acordo de paz na guerra entre a Rússia e Ucrânia. Esta mudança de discurso e alinhamento dos Estados Unidos, que deslegitimam a liderança de Volodymyr Zelensky ao colocarem a responsabilidade da guerra sobre a Ucrânia, pode abrir espaço para uma abordagem que visa alcançar um acordo de paz a qualquer custo, em detrimento dos interesses ucranianos e da integridade territorial do país.
Qualquer negociação que vise acabar com a guerra na Ucrânia deve concentrar-se em duas questões fundamentais: compromissos de segurança e um quadro de gestão do cessar-fogo, que garanta a salvaguarda da soberania e a segurança. Não é admissível discutir ou impor à Ucrânia condições de paz sem a sua participação nas negociações. A soberania de um povo relativamente à autodeterminação e às escolhas democráticas não pode ficar sujeita a ultimatos impostos a qualquer preço.
Face à crescente ameaça que paira sobre as nossas democracias, particularmente no continente europeu, a solidariedade e a defesa da Ucrânia não pode ser apenas um compromisso imposto, mas antes um compromisso de princípios: na defesa da democracia, da autodeterminação e na esperança de construir um futuro livre e independente.
Os anos de luta e resiliência do povo ucraniano não se cingem apenas ao seu território nacional. Trata-se, em última análise, de uma luta pela defesa da ordem internacional baseada em regras e pelo direito dos povos de escolher o seu próprio destino. De afirmação dos valores de liberdade, democracia e autodeterminação que deveriam ser universais.
O futuro da Ucrânia é incerto, mas os destinos da Europa e a independência da Ucrânia continuam a ser fundamentais em tempos de crise, moldando não apenas a sua trajetória, mas também a arquitetura do continente europeu.
por Susana Pereira, Fundadora da ACEGIS
Telefone: (+351) 212 592 663
Intervimos ativamente para a construção e mudança de paradigma da Economia Social e Solidária.
Pela construção de uma sociedade mais justa, paritária e inclusiva.